Quem gosta de cinema sabe que muito, mas mesmo muito frequentemente, o vilão, o criminoso, é o grande sedutor. Como queijo e marmelada, o mal e a atracção sexual produzem o agridoce, a excitação, de uma suposta existência amena e desenxabida. Os casos dos serial killers com clubes de fãs e amantes (reais e platónicos) são apenas uma das declinações que vai variando de tom e que tanto abarca um Conde Drácula com um Cary Grant em Suspicion (Suspeita, 1941). Talvez por isso tenha sido tão evidente que o grande magnetismo sexual de uma vedeta de cinema como é hoje Zac Efron, só marmelada, tivesse tanto a ganhar ao juntar-lhe um queijinho bad boy. Neste caso, queijo da serra, sabor intenso, maldade “séria”, pois estamos a falar do assassino Ted Bundy que se crê ter violado e morto 35 mulheres. Este choque frontal entre estas duas realidades domina todo o trabalho do realizador Joe Berlinger, que, nos últimos anos tem feito vários documentários para televisão ligados à curiosidade mística que envolve a vida de muitos destes assassinos em série.
Zac Efron, com os seus piscares de olhos, lacinhos, olhares penetrantes, consegue apesar de tudo dar-nos uma ideia do que seria essa aura sedutora e comunicativa de um jovem que estudava direito e que a dada altura se defendeu em tribunal, reclamando sempre inocência, no primeiro julgamento televisionado nos Estados Unidos. O filme tem um conjunto de boas ideias mas nenhuma delas explorada de forma muito consistente: 1) o título do filme é um excerto da declaração final do juiz, o que tem o condão de expurgar a violência gráfica toda (ou quase toda) da obra para essa mesma dimensão verbal; 2) Berlinger filma a conversa e re-encontro na prisão de Bundy com uma ex-companheira (de quem esta virá a ter um filho) com um conjunto de travellings circulares como se a câmara pudesse mostrar tecnicamente o acto de seduzir e enredar alguém numa teia; 3) o aspecto mediático de todo o processo acaba por ser resolvido num conjunto de momentos de tribunal pouco marcantes e alguns planos de Lily Collins, a mulher que Bundy amava realmente, vendo o julgamento pela televisão. Como esta duplicidade entre a vedeta de cinema e a vedeta mediática parece ocupar todo o espaço, Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile (Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil, 2019) não é documentário reconstituído sobre os seus crimes, mas também não é eficaz do ponto de vista pessoal e familiar, onde as cenas superficiais se sucedem. De resto, o motivo da celebridade tem uma vida própria aqui, com os seus momentos videoclip e com a vontade de ir distinguindo as presenças famosas no ecrã: John Malkovich, Haley Joel Osment, Jim Parsons, James Hetfield…
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