Quando no cantar da manhã, com as suas mãos vorazes, "o terror nos cerca" (como escreve James Baldwin), não há grande coisa que possamos fazer. Stallone, que não tinha nada para oferecer (apenas a sua companhia), disse ao filho que ele iria lamentar toda a vida sempre que virasse costas a um desafio. Sempre que, conscientemente, deixasse murchar a rosa, a excitação do que havia para fazer.
Tudo o que nos cerca ecoa em círculo. Lembras-te daquela vez há cinco, sete, há dez anos em que foste pelo lado da sombra, sempre caminho longo, lento, um salgueiro a resguardar do sol, da imensidão do calor? Ias sempre a direito, tinhas visto tantos filmes, nenhum te valeu. Subitamente, uma nesga de sol, um atalho, umas semanas de levitação, um beijo ao final da tarde, o coração tão encharcado de felicidade. A rosa branca como uma luz na escuridão, a felicidade foi um ritual fugaz e demente. Esfaqueias o presente como se procurasses por esse tempo dos atalhos. Escavas, farejas, de vez em quando a rosa branca emitia uma fragrância lá donde viveu. Já morta, a não ser uma lembrança doce e atenta. Subitamente, qualquer coisa te impele a abrir os olhos no negro da complacência, no safe bet do caminho sombrio. E ela lá esta: a rosa a olhar para ti. Não morreu, parece que floriu, apesar da sua tristeza congénita que tanto amaste. Como um ridículo adolescente a cortar pedaços de madeira para incrustar o tempo, resvalas para um buraco sem termo. A rosa meteu-se debaixo de uma mesa, não quer sair. Tu procuras o dicionário do passado e traduzes tudo muito rapidamente. Nada já mais faz muito sentido, não há aromas retrospectivos, nem casas habitadas pela ausência. Mas, apesar de tudo, todo aquele momento, aquela busca, culminara com um certo sentido. O destino de não saber bem sobre os destinos: afinal, a rosa era negra e a senhora branca.
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