sábado, 15 de junho de 2019

De entre as belas e sábias reflexões de Siddharta há uma que gosto particularmente. Esta ideia de que é o "povo das crianças" aquele que, pela sua capacidade de amar, consegue atingir o pleno envolvimento com o mundo, a comunhão com a unidade das coisas. Não estamos longe de Pessoa e da vontade de não pensar e apenas sentir. Trata-se, segundo entendi, de abolir a distância da reflexão e da condição de espectador. Trata-se de uma inconsciente e inflamada acção sem pré-visão. Siddharta irá conseguir ser uma dessas crianças-adulto, através do amor pelo próprio filho, de um amor que é bússola doida, que orienta o fazer para além do certo e do errado. Mas quer a reflexão, quer esse envolvimento amoroso com as coisas, acabam pode ser caminhos distintos que separam modos de viver. E Siddharta termina sendo um livro da união, da ponte entre todas as possibilidades, de uma liquidez entre todas as formas e formatos de existência.

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