sexta-feira, 7 de dezembro de 2018



Que dizer desta monstruosidade, feita ao correr da pena durante o aninho de 1950? Apetece louvar cada página como cada grão de areia no deserto. Mais do que ler este livro pela avidez e curiosidade das referências, há essa relação puxada para o título entre os livros e a vida. Ler não para se distrair, ler nunca a cagar, mas ler como uma filosofia de vida, daquelas calçadeiras que vão ajudando a pôr o sapato ao longo dos tempos. Miller escreve: "Considero o meu contacto com os livros muito semelhante ao que tive com outros fenómenos da vida ou do pensamento. Todo os contactos são "configurados", não isolados. Nesse sentido, e neste sentido apenas, os livros fazem tanto parte da vida como as árvores, as estrelas ou os excrementos. Não me inspira qualquer reverência per se." Por isso os livros não têm de ser os certos (os clássicos), podem ser pessoas ("os livros vivos") e ajudam nessa ciência da vida como as plantas, os animais, o sexo. Como refere mais do que uma vez: a vida sempre primeiro. Os seus heróis eram esses doutorados na ciência de viver e é esse movimento entre o pensamento no papel, que salva ou dá a perdição, e as viagens, as conversas, a dureza dos trabalhos e dos dias aquilo que me ensina Miller. 

Sem comentários:

Enviar um comentário