"A
24 de Março de 1941, Virginia Woolf encheu os bolsos com pedras e afogou-se no
rio Ouse. O seu marido, Leonard Woolf, era obsessivamente meticuloso, e
mantivera um diário durante toda a sua vida adulta, no qual registava as suas
refeições diárias e a quilometragem do seu automóvel. Aparentemente nada se
alterou no dia em que a sua mulher cometeu suicídio: ele anotou a quilometragem
do seu automóvel. Mas, escreve a sua biógrafa, Victoria Glendinning, a página
referente a esse dia está obscurecida por um borrão, uma "mancha
castanho-amarelada", que alguém tentou esfregar ou limpar. Pode ser chá, café ou
uma lágrima. O borrão é o único em todos os seus anos de imaculada escrita
diária."
WOOD,
James, a mecânica da ficção (2008),
Trad. Rogério Casanova, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 78.
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