1-Rak ti Khon Kaen (Cemitério do Esplendor, 2015) de Apichatpong Weerasethakul
2-The Hateful Eight (Os Oito Odiados, 2015) de Quentin Tarantino
3-L’ombre des femmes (A Sombra das Mulheres) de Philippe Garrel
4-Shan he gu ren (Se as Montanhas se Afastam, 2015) de Jia Zhang-ke
5-A Toca do Lobo (2015) de Catarina Mourão
6-Cìkè Niè Yinniáng (A Assassina, 2015) de Hou Hsiao-hsien
7-O Ornitólogo (2016) de João Pedro Rodrigues
8-Saul fia (O Filho de Saul, 2015) de László Nemes
9-Arrival (O Primeiro Encontro, 2016) de Denis Villeneuve
10-Hardcore Henry (Hardcore, 2015) de Ilya Naishuller
Assim como por vezes é impossível descortinar os insondáveis mistérios da distribuição portuguesa – que ora oscila entre os omissões e os filmes em catadupa -, creio também ser muito difícil encontrar um padrão para as minhas escolhas de melhores filmes do ano. Um esforço que carregue o risco de chegar a uma solução demasiado genérica talvez pudesse chegar a um conceito de inclusão. Ou a obras que por variadíssimas formas procuram conciliar-se ou acrescentar-se em espectros muitas vezes vistos como opostos. Senão vejamos: Apichatpong abalou a fronteira entre o vivo e o morto (assim como a tarefa de ver como algo hoje próprio do super-herói); Tarantino filmou uma cabana em 70 mm mostrando que o whodunnit da história da América é sobretudo um alldunnit; Garrel incluiu na simplicidade da criação ficcional todo o mundo, numa mostragem que todas as ficções são também documentários; Jia Zhang-ke inclui na China em mutação, o entre tempos, uma suavidade de transição que engloba o espectador como parte daquilo que muda; Catarina Mourão inclui no documentário familiar o thriller de investigação e sobretudo o potencial dramático do acesso ao arquivo; Hou Hsiao-hsien dá-nos um filme de acção estático, uma acção de alcance interior e moral; João Pedro Rodrigues brinca com as altitudes (o pássaro e o ser de pés assentes na terra) e inclui na ascese a queda e na descida a necessidade de olhar o alto; Nemes destroi os (demasiado) fieis discípulos de Daney pondo, de forma inteligente, em campo o que é dos campos; Villeneuve (passe-se o mel mallickiano) inclui a questão da linguagem e da não linearidade do tempo como assuntos entre-espécies; finalmente, a surpresa do ano, o film on the move, espécie de ensaio desmiolado sobre a crescente portabilidade técnica dos olhares com o cinema a filmar o jogo e o jogo a olhar, incrédulo, o cinema.
2016 teve bastante mais filmes razoavelmente bons que por uma ou outra razão (as vezes de circunstância) não restaram nos 10 primeiros. Verhoeven também inclui o desejo e a dominação do violado sobre o violador, mas está demasiado preso a essa premissa; Hong Sang-soo, um dos meus cineastas favoritos da actualidade, este ano esteve, com Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da (Sítio Certo, História Errada 2015) também demasiado “preso”, mas neste caso à família cinéfila, com um final em espelho para que os amantes do cinema nele se possam mirar, orgulhosos e onanistas; Rosi e Loach assinaram “filmes políticos” onde o político é o vocábulo mais relevante da expressão. Talvez valesse falar também, com agrado, do último filme de Todd Haynes, do último Almodóvar, do filme (quase) a negro de Fede Álvarez, da semi-desilusão da armada romena e do filme de Ira Sachs [Love is Strange (O Amor é Uma Coisa Estranha, 2014)] que filma o problema da morada como aquilo de opõe a lógica material do sistema e a lógica imaterial das relações. Este ano os meus pecados cinéfilos mais relevantes foram não ter conseguido ver o último filme da Mia Hansen-Løve, nem o derradeiro Eastwood. De resto que 2017 seja pelo menos não bom quanto este que agora termina.
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