domingo, 28 de outubro de 2018

Halloween é sempre que o mal quiser




De facto já o esperava. Este "Halloween" de David Gordon Green é bastante chocho. Não me entendam mal, eu creio que a personagem de Carpenter tem a força suficiente para aparecer a cada 31 de Outubro, o mal renovado por sobre uma máscara branca e inexpressiva. Aliás, basta olhar à volta para ver esse eterno retorno. Um dos problemas desta abordagem de Green é que, na vontade de regressar/actualizar Michael Myers, enrola-se numa história desnecessária de um par de jornalistas (que servem um pouco como aquela carne para canhão que apenas vem reabrir a porta a um universo), perde tempo com detalhes da backstory da filha de Curtis, engendra em demasia o final em formato "female empowerment" (que é, de resto, um dos motivos, não o único, que contribui para um certo envelhecimento, diria mesmo impotência, da presença de Myers). Mas há mais coisas a mais: o menino a quem uma das adolescentes faz babysitting é o comic relief, a inabilidade narrativa para lidar com a fetichização da icónica máscara, mesmo um certo overacting de Curtis, apesar desta ser, em formato "war maverick", um dos pormenores interessantes deste regresso. Para utilizar uma metáfora poderia dizer que o filme de Green está demasiado preocupado em construir um mundo expressivo à volta da inexpressão do mal, ao ponto de ir, em travelling lento, expulsando o mal de um próprio filme sobre o mal. Paradoxo, ou talvez nem tanto. Este "Halloween" assemelha-se um pouco a um produto que tivesse sido objecto de aturado controlo sanitário, escrito com um olho na narrativa e outro na ASAE. Mas nem tudo é mau. O que mais me agrada neste regresso, além dos momentos em que se procura tecnicamente evocar o original - por exemplo, o plano sequência que vai do martelo à faca, na matança na vizinhança em plena noite de Halloween- são os pequenos indícios que temos de uma certa multiplicação do mal. Quer na personagem de médico de Myers, que quer sentir o que o seu paciente sente ao matar, quer na própria obsessão de Curtis, convertida num duplo não menos violento e indestrutível do seu irmão. Contas feitas, o "Halloween" de Rob Zombie, de 2007, continua a ser o melhor regresso à saga desde os anos oitenta.

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