sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ghostbusters (2016): fantasmas do passado II


Em 1984, quando surgiu Ghostbusters havia pelo menos duas ideias que eram inovadoras. Os efeitos especiais já permitiam então criar fantasmas que esvoaçavam pela cidade como gomas coloridas e estes podiam ser caçados como coelhos numa lógica de buddy movie. Trinta anos depois, metade das personagens de Hollywood já são, por princípio, essas tais gomas coloridas e a caçada exportou-se para as ruas, desta vez, sob a forma de apetitosos e igualmente vazios pokémons. Assim sendo, que sentido terá refazer hoje o original de Ivan Reitman? Algumas cenas icónicas recriam-se para acender o coração dos saudosistas e o elenco vira ao feminino, pormenor "político" inane dos tempos em que vivemos. E que mais? Os fantasmas esses já não espantam e por isso só podem devir para o espectador cores abstractas e vivas como num quadro de Pollock. Já o argumento e caçadores de carne e osso espectralizam-se, sendo que as piadas que disparam têm apenas como finalidade adiar o fim do filme, que ameaça prolongar-se numa espécie de transe superficial sem progressão. Tudo é, em resumo, muito chato e muito "antigo" (no pior sentido do termo) e o espectador sente que é ele o alvo daquelas maquinetas que permitem encapsular os espíritos, apanhado (busted) que é na lógica do facilitismo com que hoje o remake se faz. O original tinha uma hora e quarenta e cinco, o remake "apenas" mais dez minutos. Esse insuflar temporal é claramente um caso de "more is less". Mas mais. Ele demonstra que o cinema é hoje um privilegiado campo de retórica, como um interminável discurso político que aborrece, e que nos pede à força para acreditar nesse pobre simulacro (o cinema torna-se simulacro de um simulacro, degradando-se) em que, em parte, se tornou.

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