Não posso dizer que seja um grande seguidor dos filmes de Jacques Audiard. Só vi De battre mon coeur s'est arrêté e dele não me resta grande memória. Este seu último, Dheepan, até podia ser recebido criticamente como aquilo que é – um filme bastante convencional sobre a vida dura de um grupo de naturais do Sri Lanka em França –, não tivesse sido colocado nos píncaros pela Palma de Ouro que Cannes lhe atribuiu no ano passado.
Assim, cumpre colocar as coisas nos sítios certos. Dheepan não é um grande filme pois limita-se a justapor a conhecida (e reconhecida) lógica sobre a culpa ocidental pela forma como tratamos o Outro, a um imperativo de agenda (o problema dos refugiados, a ligação destes a uma ameaça de terrorismo). O seu prémio é a colocação a nu de um cinema que não quer apenas mostrar e agir sobre o real, mas sim capitalizar os assuntos do dia para obter dividendos. Por isso o filme contem elementos tão contraditórios como querer o naturalismo da língua Tamil na boca das suas personagens ao mesmo tempo que Audiard encena a redenção final como uma subida aos “céus da burguesia francesa”: o sonho de uma relaxada refeição entre amigos num jardim de uma vivenda, ao som de uma música religiosa. De repente, o bem-estar das personagens é o nosso, isto é, o de um qualquer aborrecido anúncio televisivo de domingo à tarde…
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