Não
deixa de me parecer sintomático que à medida que o neoclassismo no cinema
converte o close up em algo similar
ao bordão de fala - “tipo” - menos ele tem um significado de aproximação
emotivo à pessoa. E se os close ups
“tapam buracos” e existe um borrifanço geral para os master shots percebemos que se calhar a dedicação que o cinema tem
em relação a um dado assunto talvez tenha uma correspondência espacial na distância.
Ao ver, por exemplo, uma composição típica de Ozu isso torna-se claro. Parece que percebemos nela uma dimensão
sacrificial importante:
-como
se só uma vida “desinteressante e geométrica”, a sua, permitisse auscultar a
arquitectura das relações familiares como alguém terceiro;
-um sacrifício dos exteriores, como um cinema que não pode e não quer sair à
rua sob pena de perder a atenção das coisas. Nesses interiores em que o cinema
de Ozu reina, os seus famosos planos vazios ou pequenos travellings em direcção ao nada, são mais do que tudo exteriores
encapotados. Formas hábeis de ir “para fora cá dentro”. Mas sobretudo índices
do incompreensível que actualizam ad aeternum as obras primas;
- mas também um sacrifício da proximidade - uma composição que coloca sempre a
câmara a uma “distância de segurança”
(portas, armários, objectos). Não é só pudor que há em Ozu. É sobretudo
a percepção que a sua composição típica (em fechadura) tem de que as coisas
se revelam inteiramente apenas a uma determinada distância de intimidade. Como um belo
paradoxo, daquele que afasta para poder estar muito perto