domingo, 27 de agosto de 2017

O modo de aquisição cultural da paisagem através do turismo rural (em boa verdade, a natureza é sempre uma função da cultura) requer que se imite a natureza para a limitar. A natureza tem de ser contida na sua desordem e nas suas manifestações exorbitantes para que o modelo paradisíaco seja assegurado. Pode ser que o turista rural tenha uma vaga ideia de que a natureza é muito avara a conceder bem-estar, mas ali, no empreendimento turístico onde o campo foi domesticado, colonizado e anexado à vida urbana, “tout est calme, luxe et volupté” (Baudelaire). Uma grande filósofa da paisagem e socióloga do turismo rural, de nome Espírito Santo, pronunciou há alguns anos, do seu posto de observação na Comporta, uma frase de grande alcance nesta matéria: “É como brincar aos pobrezinhos”. 

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