sábado, 1 de outubro de 2016

Jogado ao lixo




Imagem poderosa esta do fim de "Rabid" (1977) de David Cronenberg. Marilyn Chambers, actriz porno a quem lhe cresce uma pila na axila (sim, rima), jogada ao lixo. Corpo descartado, fim possível de uma epidemia que vive do sangue e da contaminação. Os primeiros filmes do canadiano, que têm premissas com maior longevidade do que as personagens que as carregam (cinema abstracto sobre tripas, sobre a política das tripas), têm em comum esta transformação do papel da sexualidade. Mentes que varrem corpos, corpos que produzem carne ao ritmo da sua ira, contaminações e experiências que alteram o papel da penetração, da maternidade, do solitário pensamento obsceno. O corpo da antiga sexualidade, uma sexualidade que se vendia, desejava, despojada e sem pudor é recolhida às terças. O domingo talvez seja o dia do papelão, mas a reciclagem começava aqui.

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