segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Climbing High, de Carol Reed

  Se "Bank Holiday" não é "The Lady Vanishes" também "Climbing High" não é "Bringing Up Baby". E nunca saímos do mesmo ano nestes quatro filmes: 1938. Carol Reed num mundo paralelo seria o genial realizador de comédias, com este "Climbing High" como tubo de ensaio, screwball comedy em termos bastante british. O milionário - um Michael Redgrave com apenas trinta anos - atropela a pobre rapariga (Jessie Matthews) e quer conquistá-la, escondendo nome e estatuto. Mas a Viena de "The Third Man" ou a Belfast de "Odd Man Out" - ambas embrionárias e a uma década de distância - fazem-se prever numa espécie de caos revolucionário que desconcerta completamente a screwball. E não é apenas o companheiro de casa da rapariga, o "magnificently revolting" Alastair Sim, marxista intelectual, que pede desculpa a Lenine por o ter traído e arranjado trabalho como modelo fotográfico, envergando uma pele de homem das cavernas. São as sequências da ventoinha descontrolada que varre todo o estúdio num genial momento slapstick. Ou ainda a personagem do louco que obriga toda a gente a cantar, com os coelhinhos no cimo do monte a ouvir e a dar às orelhas em coreografia. A desordem entra na comédia romântica para a romper por dentro e deixa de facto uma vontade de ver mais de um Reed em modo tresloucado. Não tinham passado muitos anos desde "Monkey Business" (1931), "Duck Soup" (1933), "A Night at the Opera" (1935) ou "A Day At the Races" (1937)





"Bank Holiday" de Carol Reed

 


Não é do calibre do "The Lady Vanishes" do mesmo ano, 1938, mas Margaret Lockwood ajuda a dar mais consistência a "Bank Holiday". O filme de Carol Reed anda ali sempre entre o retrato social irónico das classes sociais que se mesclam num dos britânicos feriados de Verão e um esboço de triângulo amoroso entre um homem que acaba de perder a sua esposa, a enfermeira e o noivo desta. O olhar de Lockwood vai fazendo essa passagem lenta entre a piedade face ao familiar da mulher falecida, o lento desabrochar de um amor e sobretudo esse sentimento de culpa misturado com tristeza quando percebemos que não conseguimos corresponder a uma pessoa que nos ama. O contraste entre o fim-de-semana da alegria geral e da angústia particular poderia ir mais longe. Bem como a forma como Reed encena a assombração: o viúvo que revê a mulher, já depois de morta, a partir num eléctrico no dia em que a reencontrou, a "telepatia" nas águas debaixo de uma ponte entre Lockwood e John Lodge. Tema sólido, mise-en-scène que trabalha na leveza. Mas depois há que fechar tudo apressadamente e o "the end" vem tornar banal o que antes fora, por umas horas de feriado (e por uma hora de filme), extraordinário e encantatório.