Cá está!
terça-feira, 30 de junho de 2020
segunda-feira, 29 de junho de 2020
quarta-feira, 24 de junho de 2020
quinta-feira, 18 de junho de 2020
Sem cabeça/sem vento
Na vertigem do movimento e da transformação as coisas tendem a ser vistas com o mesmo olhar pesado, sem distinção. O derrube de estátuas é um sinal de transformação. Pelo menos nos últimos 2000 anos não assistimos a outra coisa do que à substituição, alteração, vida e decadência - umas vezes lenta e pacífica, outras de forma abrupta e violenta - dos símbolos de veneração e respeito. As estátuas que hoje caem são obras, mas são sobretudo símbolos. Símbolos de um passado com o qual estamos hoje a braços. Não no sentido de o eliminar, mas de o reavaliar como desigual, injusto. Manter esses símbolos no presente significaria querer mudar as coisas, sem mudar a visão simbólica sobre elas. Os símbolos caem, renovam-se, para que a realidade se transforme. Parece-me isso não só natural, como desejável. Outra coisa bem distinta é vetar obras do passado, consideradas racistas, misóginas, ao exílio e à invisibilidade. Estamos ainda a falar de um desejo de transformação. Mas a censura mostrou-nos que a transformação não pode ser às custas da cegueira. Esse é o argumento das ditaduras: encerrar-se sobre si, abafar o indesejado, controlar o que pode ser visto, dito, pensado. Pelo contrário, quanto menos virmos filmes como "The Birth of a Nation" ou "Gone with The Wind" mais cegos estaremos face aquilo que aconteceu no passado, com as suas qualidades e defeitos, com as suas circunstâncias artísticas e políticas. E, ironicamente, menos teremos consciência do que há a mudar daqui em diante.Vetar à invisibilidade a história é muito diferente da renovação dos símbolos de exaltação da mesma. Uma procura apagar/esconder factos, a outra renova juízos de valor.
E sobre as introduções contextualizadoras diga-se o seguinte. Todas elas, sem excepção, são "bengalas mentais", para utilizar a expressão do Miguel. Mas todas elas sempre foram necessárias para colocar uma obra no seu tempo. Todas elas têm expressa uma visão qualquer - nuns casos de forma mais evidente, noutras de maneira mais implícita - a subjectividade de quem as elaborou. Não podemos presumir que todo o espectador sempre já é capaz de ter um olhar esclarecido e livre de condicionamentos. Os museus, as cinematecas não são outra coisa do que grandes fazedores dessa contextualização. E são vitais. Dito isto, convém ter noção que sempre deveremos permanecer livres de fugir, de contornar, de compreender a dimensão ideológica daquilo que se pode dizer sobre uma obra. (Aliás, basta imaginar a introdução contextualizadora que a netflix faria hoje sobre Gone With The Wind e compará-la com as que se têm produzido ao longo dos anos, para percebermos como sempre está em causa a mudança dos nossos olhares, de vermos as obras à medida que mudamos). Mas acho que é importante frisar que o discernimento do espectador, a consciência crítica, não são coisas que surjam do ar, dados adquiridos, a priori. Quantos filmes, quantas aulas, quantos livros são necessários para ganhar essa distância? A liberdade crítica é coisa árdua de construir, onde se jogam responsabilidades da política de cada estado, embora seja um processo eminentemente individual. Veja-se o Brasil de Bolsonaro ou a América de Trump e veja-se onde levou esse mito que todos já nascemos igualmente críticos e distantes face a uma dada informação. Daí que essa relação entre a fabricação institucional de contextos e a destruição/libertação individual de contextos viva de um necessário equilíbrio. Um que não pressuponha nem que toda a gente seja à partida esclarecida, nem outro que assuma que toda a gente seja à partida pouco inteligente.
segunda-feira, 8 de junho de 2020
sexta-feira, 5 de junho de 2020
não colocar isto nos ombros da utopia
Há imagens que se infiltram na tua cabeça, nos sonhos, nos acordares, que torcem a psyche e estão lá ao pequeno almoço, e não deixam dormir e pensar. Imagens-vírus que muitas vezes queres afugentar como um mosquito zombeteiro e continuam lá à espera. Como se exigissem uma acção qualquer, uma tomada de posição, outra imagem "contra-violenta". Duas delas não me saem da cabeça.
1. A primeira é uma espécie de perverso zoom que faço cada vez que a memória me traz a tragédia da morte de George Floyd. Não consigo deixar de pensar naquela mão no bolso do polícia que o matou. O diabo está nos detalhes, e aquela mão a descansar por sobre a morte de um inocente, foi o centro de um pesadelo no outro dia. Um pesadelo do qual acordei subitamente e que, instantes depois, me dei conta que era um pesadelo real. O despeito pela vida humana num gesto menor (por relação ao homicídio, claro) e tão revelador desta cultura xenófoba, em que sempre o outro é para estar debaixo da bota.
2. A segunda é de um filme de Charles M. Seay de 1912, produzido pela companhia do Thomas Edison. "The Public and Private Care of Infants". É a história de uma mulher, mãe de gémeos, que não tendo trabalho acaba por dar um deles para ser tratado num asilo. As imagens têm um cunho documental e o filme uma ficção mascarada para alertar contra os perigos dos bebés serem deixados nestes locais, com cuidados muito reduzidos, levando à morte de muitos deles. A imagem que me vem perturbando é a de três desses bebés, subnutridos, de faces encovadas e de expressão triste. Não penso no lado documental, nem eventualmente moralista do filme. As faces encovadas daqueles bebés têm sido o prolongamento do bolso daquele homicida. Duas imagens que pesam sobre a dura realidade, e que têm a mesma função. A de fazer acordar sempre a meio da noite com a certeza do tanto que há para fazer. A de pausar entre a actividade diária e nos colocar perante o desafio de arrancarmos aqueles bolsos, de enchermos aquelas bochechas. No fundo, não colocar isto nos ombros da utopia, pois o que urge é deixar de dar às imagens matéria para o horror real.
terça-feira, 2 de junho de 2020
segunda-feira, 1 de junho de 2020
Os 10 Melhores Filmes Portugueses de Sempre
O meu top:
- Vale Abraão (1993)Manoel de Oliveira
- Jaime (1974)António Reis
- Recordações da Casa Amarela (1989)João César Monteiro
- Os Verdes Anos (1963)Paulo Rocha
- Juventude em Marcha (2006)Pedro Costa
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