terça-feira, 26 de abril de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
O sorriso de Silvio Berlusconi
Que a decadência da cultura de massas seja óbvia não é um exclusivo italiano. Que a dimensão da manipulação de informação e de pobres destinos seja um efeito dessa decadência também não. O interessante neste VIDEOCRACY é que neste império, ao contrário de outros, ainda há uma cabeça nobre visível a comandá-lo, dir-se-ia na «digna» linhagem de Mussolini, uma figura que em Itália não foi de longe tão escrutinada como o seu, digamos, congénere alemão. Desta forma, VIDEOCRACY permite-se ser uma espécie de plataforma para repensar estas linhagens, questionar o papel dos sorrisos e sobretudo encetar um projecto de renovação identitária que a Itália ainda não abraçou desde o pós-guerra.
sábado, 23 de abril de 2011
Eu hei-de perder leitores com este post…
O argumentista original da trilogia SCREAM, Kevin Williamson já tinha percebido dos efeitos salvíficos da técnica da estrutura metanarrativa a propósito de SCREAM 3. Agora, mais de dez anos passados, no quarto segmento da história, essa metanarratividade explode como único elemento irónico, actual, que é capaz de trazer o filme para 2011. Contudo, esse sintoma de reavivar a bitchness pós-moderna dos espectadores actuais (que sendo tão «superiores» aos que foi aquilo tudo no passado ainda vão ao cinema ver partes quatro de coisas) acaba por não ser suficiente para salvar um filme cujo dilema temporal em que vive é de somenos importância quando comparado com o que trai o autor de THE HILLS HAVE EYES. A preocupação de alguém que sabe perfeitamente onde começou a vaga dos slasher movies, da importância de HALLOWEEN, de John Carpenter ou, como é repetido até à exaustão, a mecânica deste tipo de filmes, inclusive sequências clichet, ordem das mortes, etc, saberá perfeitamente que o limbo de SCREAM se produz na incapacidade de levar as suas sequelas no trilho do primeiro filme. Isto é um lugar-comum claro. Contudo, neste caso, produziu-se um efeito estranho: o assassino do primeiro filme era uma personagem que não inspirava o riso e que com a opção dos filmes seguintes se transformou numa caricarura, de identidade circulante, à la Scoobie Doo, que dispensava os conhecidos spoofs SCARY MOVIE, algo que até os próprios filmes seguintes verbalizaram sob o nome Stab. Este é um primeiro sinal de que as opções tomadas nos finais dos sucessivos filmes iam esgotando as opções narrativas surgindo cada vez mais a necessidade de um meta-discurso.
Também inexplicavelmente foram sobrevivendo sucessivamente uma tríade de personagens perfeitamente inconsequentes (Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette) que, à excepção da protagonista, não fazem avançar a acção, só estão lá para preencher os espaços e o tempo, adensando o vazio em que se produzem as mortes, os motivos, os set ups. Por fim, essa incapacidade de escolher entre ser um filme de terror que não inspira o riso e uma auto-paródia que faz de se olhar ao espelho o seu assunto, é evidenciado na forma como essa estratégia narrativa serve como gadget final que produz uma linguagem de escrita que rima na perfeição com os chats, blogs, câmaras, sms, telemóveis, de que SCREAM IV está cheio. É aparentemente nesta voragem da comunicação, neste olhar para teclas, ecrãs, lentes, que a morte analógica, essa, feita de sangue, motivos, tripas, só pode surgir desritualizada, passé, como coisa chata que acontece nos intervalos dessa animalidade comunicante. Dessa animalidade tecnológica o medo é só um: o off.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Aos meus pais
In WALDEN- Henry David Thoreau (1854)
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Movimento pela Cinemateca
Em tempos agitados como estes é reconfortante ir reconhecendo na sociedade civil alguns sinais que vêm quebrando o geral torpor em que vive. Desta feita, um grupo de cidadãos fundou um movimento apartidário que se destina a reagir contra as mais recentes medidas de estrangulamento financeiro que põem em causa o funcionamento da Cinemateca Portuguesa. Em consequência desta medida de corte económico encapotada, a Cinemateca já teve de cancelar 59 das suas sessões, fechar temporariamente uma das suas salas, além de pela primeira vez em muitos anos não ter editado o seu depliant com a informação da programação. Isto para além da actividade de conservação do ANIM que se vê assim em risco.
Enquanto ainda se está a tentar perceber se na sequência da polémica Portaria n.º 4-A/2011 a Cinemateca disporá tout cour de menos fundos (visto que é de uma autorização do que se trata), este movimento convoca uma manifestação de apoio para dia 28 de Abril, às 21 horas, junto às instalações da Cinemateca, na Rua Barata Salgueiro, n.º 39, em Lisboa.
Para obter mais desenvolvimentos sobre este grupo consultem o seu blogue ou página do facebook.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Nenhures- Parte II
domingo, 10 de abril de 2011
Road to Nenhures
Não é assim de estranhar que haja um regresso ao tema da estrada neste ROAD TO NOWHERE, mais de vinte anos depois de IGUANA, sua última longa-metragem. Mas agora a estrada é outra. Uma estrada mais difícil de percorrer porque além das limitações orçamentais que toda a vida foram uma preocupação, juntou-se-lhe agora a dimensão do tempo. Outras pessoas habitam a estrada, a percorrem, falam pura e simplesmente nela.
A estrada que Hellman escolheu para este ROAD TO NOWHERE é uma plataforma que lhe permite pensar um argumento que põe os filmes dentro dos filmes, os factos dentro das ficções e as concepções de cinema dentro de outros cinemas. Seja ou não declarada a influência linchiana, ou a de Hitchcock, para o caso pouco importa, o certo é perceber que o desprendimento que se esperava de Hellman é convertido numa relação no qual o filme parece circular, ou melhor, oscilar sempre entre dois pólos opostos que não são o facto e a ficção. Antes a luta entre a contemporaneidade da qual o filme se quer valer, e as marcas de alguém que está fora dessa relação e converte o novo em ironia, numa ironia de actualidades. É o que os velhos fazem aos novos, diga-se. Ou seja, a estrutura metanarrativa, a pseudo-tensão linchiana de uma história retalhada, mal representada, onde se espera que o charme dos actores seja posto a render e uma Canon 5D de um lado, numa das mãos. E na outra, a banda sonora de Tom Russell sobre os filmes que são sonhos e a ironia sobre o facebook/myspace, vertidos em spacebook, myface, ou as referências cinéfilas onde um casal vê Bergman, Erice, Sturges e comentam sobre como são obras-primas. Tudo elementos capazes de fazer subir a tensão a quem acha que o bom cinema, o “cinema a valer” é algo do domínio exclusivo do pretérito perfeito.
Contudo, ROAD TO NOWHERE parece querer ter como centro uma dimensão de impermanência e experimentação que têm menos a ver com, por exemplo, o uso da câmara fotográfica ou o sentimento de furtividade natural nas sequências filmadas em Roma ou Verona, e mais com um instinto de Monte Hellman para a derivação. A incapacidade de escolher entre a contemporaneidade e o classicismo ganha assim dupla leitura. Grande pecado é o do filme que tenta ser jovem procurando ilidir sem sucesso a sua condição. Grande virtude é a do filme que tem um realizador que conscientemente não tem a capacidade de tomar uma decisão quanto ao rumo do seu próprio filme. Monte Hellman decidiu assim ou teve de ser assim? É que é esse pormenor, pequenino, marginal, que me parece separar claramente a lição calma, de ancião cool que ROAD TO NOWHERE é, da errância, nervosa, transtemporal que o filme também parece ter.