Por vezes, chegamos a um local desesperados, mimados, ansiosos. Esperamos pela nossa vez, mãos na boca, pensamentos esvoaçando. No momento em que nos é dado o tempo e o espaço de falarmos o nosso pedido, a nossa queixa, há duas coisas muito diferentes que podem acontecer.
A primeira é esta. A pessoa que nos ouve responde-nos: isso é impossível. Ou: tem a certeza? Ou ainda: isso não é bem assim, vai ter de esperar. Essa pessoa tem geralmente um brilhozinho nos olhos, é a chamada pequena crueldade.
A segunda possibilidade é esta. A pessoa que nos ouve diz-nos: isso é impossível... mas estou aqui para ajudar. E depois acrescenta: vou tentar falar com x, ver se conseguimos contornar isto. Se nesse preciso instante encararmos a pessoa nos olhos, também neles mora um brilho, é a chamada pequena bondade.
Nas repartições, nas esquinas, das secretarias, nos balcões, cafés e guichets estes brilhos andam à solta. Pessoas que têm prazer em ver sofrer e pessoas que têm prazer em ver sorrir.