«Conforme vai avançando no conhecimento prático da vida, o homem vai abandonando dia após dia aquela severidade pela qual os jovens, sempre buscando a perfeição e esperando encontrá-la, e medindo todas as coisas pela ideia que dela fazem, com tanta dificuldade perdoam os defeitos e concedem estima às virtudes escassas e insuficientes, e às qualidades de pouca importância, que observam nos homens. Depois, vendo como tudo é imperfeito, e convencendo-se que não há no mundo melhor do que o pouco de bom que desprezam, e de que quase nenhuma coisa ou pessoa é realmente estimável, aos poucos, alterada a medida e nivelando aquilo com que deparam já não pelo perfeito, mas pelo verdadeiro, acostumam-se a perdoar liberalmente, e estimar qualquer virtude medíocre, qualquer sombra de valor, qualquer pequena qualidade que encontram; de modo que, por fim, lhes parecem louváveis muitas das coisas e muitas das pessoas que dantes lhes teriam parecido dificilmente suportáveis. Isto chega a tal ponto que, enquanto a princípio quase não tinham aptidão para estimar, com o passar do tempo se tornam pessoas inábeis a desprezar; e tanto mais quanto são munidos de inteligência. Porque, na verdade, ser-se muito despiciente e difícil de contentar passada a primeira juventude não é bom sinal: e estes a que me refiro, seja por falta de intelecto, ou decerto por falta de experiência, não devem ter conhecido o mundo; ou então devem ser daqueles tolos que desprezam os outros pela grande conta em que se têm. Por fim, parece pouco provável, mas é verdade e não significa mais do que a extrema baixeza das coisas humanas, dizer-se que a prática do mundo ensina mais a prezar do que desprezar.»
Giacomo Leopardi, p. 55 e 57.
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