domingo, 30 de novembro de 2014


“Because we’re full of pride and see humanity firmly established as the rulers of the solar system, we tend to think that nothing more powerful, more moral and more delightful or in any way better than we are could possibly come after us. Most of us find it difficult even to contemplate the possibility that we are fulfilling a role like that of the feathered egg-laying reptiles who were the predecessor of the birds. But the signs are here: we already talk, first in fiction but now in science, about artificial intelligence. There are many possible forms of life and evolutions of Gaia beyond the ones we know.”, p. 17


“Greenpeace, your great and powerful negative feedback on all that enlightened technical progress stands for: quit your war with GM, with nuclear energy and with the chemical industry, and see what might be your target – the real enemy, that computer on your desk; something that could morph into a new form of life powerful enough to destroy us, our carbon life forms, and inherit the Earth.”, p. 84

 James Lovelock, " A Rough Ride to the Future, 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A Rought Guide to the Future


  Não há ano que não se passe que não se ouça a expressão "nós não somos nada" para embalar esse passar. Morre alguém, assoma-se uma tragédia, e fazemos questão de lembrar, uns com intenção verdadeira, outros só pelo ritmo das palavras, a fragilidade da condição humana. 

Aos 95 anos, o cientista James Lovelock, em jeito de despedida faz do antropoceno uma batalha perdida, em que há que aproveitar o que resta enquanto durar. O impacto da condição tecnológica na atmosfera exigiria uma adaptação radical às novas condições de sobrevivência de Gaia. 

Tal como a morte do indivíduo que surge lentamente pela velhice ou de um momento para o outro, fruto de doença ou acidente, também o fim da humanidade como espécie espera o seu fim. E só há duas opções: a morte súbita, com sucedeu com os dinossauros, ou a morte evolutiva. Nesta, a terra pode muito bem reagir ao nosso impacto nela, tornando as condições de vida insustentáveis para nós, dispensando-nos.

Sair de cena tem assim toda a aparência de um bumpy ride.


sábado, 22 de novembro de 2014

Kent


terça-feira, 18 de novembro de 2014




Fim dos Retalhos d'um Gajo que Vê Filmes. O ligeiro toque de Alfama é oferta da casa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Eu juro que queria por aqui coisas originais mas têm apertado comigo ali ao lado. Leiam lá a entrevista ao Rui Tavares.

domingo, 16 de novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

sábado, 8 de novembro de 2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Masterpiço

Não sou grande degustador de viagens estelares mas nem é por isso que torço o nariz ao far far beyond INTERSTELLAR. Depois de o ver em 70 mm numa sala IMAX com as rodas dos pneus e as naves a perfurar tímpanos, confirmei uma coisa em que tinha pensado a caminho da sessão. É que o que divide os nolanianos dos não nolanianos está para além (é independente) dos filmes. Explico-me. Ou tento.

Os seus blockbusters de autor - e são estes que abriram a fenda entre os lovers e os haters - marcam uma diferença entre dois ideais. Uma vontade de ver a vida como luz, algo positivo em que é preciso acreditar com força e convicção; e uma vontade de fazer o não elogio, de expor a sombra, do presente embebido em álcool e conversa, de orgulho na crença de uma falta de crença e de um sentir a sangue frio o tempo que passa sem um sorriso poluidor, sem uma expectativa salvífica que engane o "pacóvio" até chegarem as térmitas ao caixão.

Exagerei, deixei-me levar, mas é isso que está em causa quando nos deixamos ir a sorrir por entre esse espaço fora com a imagem e o som a ribombar com uma humanidade que fez merda e há-de encontrar salvação algures ou, pelo contrário, à segunda chapada de Dylan Thomas e ao levar com o plano do Matthew McConaughey a fazer de legenda para Lázaro dizemos, não, chega, não estou para isto, prefiro ir beber uma mini e comer tremoços.

Seja como for, neste último filmaço de Nolan, o melhor de todos os tempos, passado, presente e futuro, o que enerva mesmo mesmo é que a superficialidade da sua mensagem é feita passar como banha da cobra. Não é um filmeco que quer avacalhar, não, é um monolito que pensa que está a atingir níveis de profundidades reservados ao Criador. Senão vejamos. INTERSTELLAR quer fazer a apologia do simples, despojado e pequenino. É o quarto da filha em vez do universo, é a família à qual é preciso regressar em vez de se ser o rei do pedaço e salvar a humanidade toda e ser por todos reconhecido para todo o sempre.

Mas que sentido tem fazer a apologia do simples num filme onde tudo é desmedidamente grande, como se a incontável dimensão do espectáculo, das imagens, das referências metidas a martelo, da ambição desmedida (salvar o mundo, pois claro) depois fossem tão longe para dizer o seu contrário: é o amor, o amor é que vai salvar isto tudo. Esta mensagem "vai onde te leva o coração" enerva pois é a máquina que quer fabricar um conceito de bem e de humanidade que a todos domine e a todos faça abrir os olhos.

"I used to be blind but now i can see". A ambição evangélica do filme de Nolan assente numa espécie de balela pseudo-mística humanista no fundo nada mais é do que a actualização da mensagem da bondade religiosa. Que diferença existe entre: o amor é a chave da humanidade da religião nolaniana e o "amai-vos uns aos outros" daquela religião mais ou menos conhecida daquele senhor que agora me falha o nome?

O amor não precisa de panfletos e ele, como muitas outras coisas serão indispensáveis à sobrevivência que é tudo, como toda a gente sabe, menos uma tarefa asséptica. Se há coisa que não pode caber na limpeza deste filme é a sujidade de estarmos prestes a desaparecer. Não há tempo. Muito menos três horas ou lá que é.

Conversinha à pala sobre o dito cujo aqui.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A rosa é a vida



Gostava de ler sobre a comparação de lirismos - o que se perdeu e o que se ganhou - com esse tortuoso caminho que vai da rosa de Chaplin vagabundo às rosas sangrentas de Werner Schroeter. Marcel Duchamp talvez seja o missing link.

domingo, 2 de novembro de 2014

Domingo é dia de dríades

"Uma vez, o meu avô apaixonou-se por uma dríade - uma ninfa dos bosques que vive nas árvores e para quem as árvores são sagradas e que dança em volta das árvores vestida com um delicado tutu verde da cor da folhagem e que traz consigo um grande machado cintilante como prata para limpar o sebo a qualquer pessoa que execute todo e qualquer gesto hostil para o bem-estar e para a saúde mental das árvores. À época, o meu avô era madeireiro."



in "Partidas", 40 HISTÓRIAS de Donald Barthelme, p. 120.

sábado, 1 de novembro de 2014

O negro e o sono

Um dos episódios com que Jonathan Crary abre o seu "24/7 Late Capitalism and the End of Sleep" é, se não me falha a memória, o projecto de usar satélites terrestres como sistemas de redireccionamento da luz solar. Essa é uma forma de terminar com o conceito de noite, além da fugacidade da luz eléctrica, e, consequentemente, trazer às regiões do planeta com escuridão de meses a "dignidade" luminosa que merecem. Isto além, claro, dessa notinha de rodapé de interesses que é o sistema comercial funcional sem horário de fecho - 24/7.


A capa do livro tem essa montagem feliz das janelas-gaveta, num ambiente matrix-suburbano. Sem cortinas (a cortina corta a luz, a cortina é o fim do espectáculo) numa composição feita de milhares de micro-composições, são os rectângulos a perder de vista ao género "onde está Wally?" sem Wally. Podemos dizer que não há porque olhar para um ponto específico, que é o efeito de conjunto - tal qual parada chinesa em abertura de jogos olímpicos - o que interessa. O enquadramento final, aquilo que delimita o olhar, são os bordos do livro e, de certa maneira, os garrafais números laranja que, em toda a sua pompa, funcionam como sinais publicitários. Estão lá com a sua função de trabalhar o "fundo" das gentes, mas aqui em primeiro plano, fazendo inverter auraticamente o jogo do próximo e do distante.

Não me interessa tanto aqui fazer a semiótica apressada e abusiva da montra do livro de Crary. Pensava apenas na forma como o cinema, além do branco e preto como começou (num sistema de significações que compõe a forma pelo doseamento da aparição e desaparição do negro sobre o branco e viceversa), se popularizou com um enquadramento arquitectónico do negro das salas que delimitava o outro enquadramento que se movia, feita de imagens irrequietas mas aprisionadas/contextualizadas por essa escuridão. Esse negro da sala, como rebordo das imagens a ver, funcionava como limitação, como indicação do: para onde olhar. Se a decadência do cinema corresponde à decadência da sua aura (que se erigia por sobre esse negro da sala), pode estabelecer-se, inocentemente ou não, uma correspondência de negros. Entre o negro que enquadra o cinema e lhe dá a especialidade e a negro do sono, enquadramento do dia, como pressuposto da especialidade do humano.

São todos esses negros - na medida em que envolvem o limite da forma- que têm hoje a cabeça a prémio. É preciso manter os olhos abertos para o sono.